sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tese- Congresso da Conlutas -2008

TESE PARA O 1º CONGRESSO DA CONLUTAS:


Unidade Proletária!


Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa

Movimento Universidade Crítica


Avanço das Forças do Capital

O século XXI inicia carregando a herança das experiências da Revolução Russa, da Revolução Chinesa e Cubana, das lutas de libertação colonial e da derrota americana no Vietnã. Em contrapartida, assistimos o fim da União Soviética, a queda do Muro de Berlim, as reformas capitalistas na China e o isolamento de Cuba.


Carrega também as experiências das lutas em movimentos pendulares na América Latina, onde, num período histórico relativamente curto, vivenciamos o ascenso de governos de esquerda e suas derrotas por violentas ditaduras militares. Ditaduras depostas por uma redemocratização burguesa a serviço do neoliberalismo e sucedidas, em um posterior realinhamento numa configuração diferenciada, por governos de centro, de esquerda e claramente de direita.


A explosiva situação do Oriente Médio, com a aplicação de políticas genocidas especialmente no Iraque e na Palestina, mostra a força bélica do capital, enquanto a observação passiva de países árabes vizinhos como Arábia Saudita, Jordânia e Egito, é explicada por sua dependência dos EUA para a proteção de seus próprios governos.


Complexidade e tensões que se aprofundam quando observamos a derrota militar no Iraque dos EUA e seus aliados e a possibilidade potencial de uma guerra nuclear com Irã. Realidade mais próxima, já que o uso de bombas atômicas pela OTAN e EUA, em guerras por eles consideradas “preventivas”, estará sendo analisado em Bucareste em abril deste ano.


Na Europa, o capital caminha mostrando, nos conflitos étnicos, outra faceta de sua exploração enquanto a falta de oportunidades gera a sua “modernização”, materializada em reformas que retiram os direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores durante o Estado de Bem-Estar Social.


Inúmeros são os exemplos de conflitos e reordenação; movimentos separatistas em boa parte da Europa, como na Espanha e na Grécia. A “integração” das antigas colônias aos moldes de Sarkozy é mais uma demonstração de que o capital sabe resolver suas crises. A recente criação de mais uma cunha territorial norte-americana, plantada com a independência unilateral de Kosovo, a colocação de sistemas de controle por radar dirigidos às fronteiras da Rússia e as bases nucleares na República Tcheca, Bulgária e Romênia, indicam uma tomada clara de posição. Em outras palavras, significam uma nova fase da guerra fria para construção, ampliação e defesa de seu império mundial, a partir de programas belicistas enquanto a base econômica que sustenta o império norte-americano está debilitada. A complexidade deste quadro internacional aumenta quando se considera a entrada da China e da Índia no cenário e na disputa do mercado mundial. A África, com sua complexidade de conflitos étnicos, exemplifica o uso da etnia para instalação da barbárie e dominação.


Mesmo diante de tais debilidades, assumir, nos dias atuais, que o capital em nível mundial encontra-se em uma profunda dilaceração em suas formas produtivas e organizativas representa, no mínimo, um retrocesso só justificado pela ausência de aplicação do marxismo como método de análise e interpretação da realidade.


A recente crise do setor imobiliário dos EUA, com quedas de 4,5% e 6,5% em seus lucros nos terceiro e quarto trimestres de 2007, é prova, sem dúvida, da desestabilização da economia americana. Dados gerais mostram que a economia como um todo foi abalada. O crescimento do Produto Interno Bruto caiu de 4,9% no terceiro trimestre para apenas 0,6% no quarto, contrariando até mesmo as previsões mais pessimistas – que variavam em torno de 1,2% de crescimento. Alarmante também é o crescimento da taxa de desemprego, que chegou a 5% em dezembro de 2007, o dobro do mesmo período do ano anterior e o crescimento da inflação, atingindo a maior taxa em 26 anos: o índice foi de 4,1% em 2007, contra 2,5% em 2006. Há também a redução dos postos de trabalho. O Departamento do Trabalho do governo dos EUA revela que no mês de janeiro foram fechados 17 mil postos de trabalho, a primeira redução no número de empregos desde agosto de 2003.


Fontes oficiais do governo e analistas econômicos da grande mídia apontam para uma rápida recuperação. A recuperação das bolsas, após as medidas paliativas anunciadas pelo governo norte americano, acontece enquanto o FMI anuncia a diminuição da previsão de crescimento mundial para 2008 mas insiste em afirmar que não haverá recessão, uma vez que a crise seria apenas financeira e não econômica.


Sabemos que o capitalismo é um sistema que enfrenta crises cíclicas, inerentes à sua própria estrutura. Sabemos, igualmente, que encontra formas de superá-las, reestruturando-se e assumindo novas facetas que adiam sua falência definitiva, mesmo que sejam incapazes de superar suas contradições fundamentais. Obviamente, os números atuais dos EUA apontam para uma recessão mais importante que a queda das bolsas, cujos reflexos apontam para uma clara turbulência no quadro eleitoral. Ainda assim, a dimensão e a definição do caráter da crise – se se trata de uma crise conjuntural ou estrutural – certamente ainda se delineiam.


Na América Latina, certamente, a tentativa da burguesia será de fazer com que os reflexos da crise recaiam, mais uma vez, sobre as costas dos trabalhadores. É importante lembrar que a redemocratização burguesa no continente se faz com opção clara pela exploração da classe trabalhadora, para a integração democrática dos países latinos à ordem da economia mundial.


A adoção do modelo neoliberal aplica de forma igual o receituário econômico do FMI: enxugamento do Estado via privatização da saúde, educação, previdência, empresas estatais, rodovias, etc., seguido da “flexibilização” das leis trabalhistas e adoção de políticas assistencialistas focalizadas. O resultado conhecido por todos nós é a crescente miserabilização das massas, escalada desenfreada da violência rumo à barbárie, lucros exorbitantes para o capital financeiro e enorme concentração de renda.


Ao final da década de 1990, o neoliberalismo começa a apresentar sinais de esgotamento, com quedas na taxa de lucro da burguesia. O capitalismo, no entanto, não encontra nenhuma outra faceta para substituir o neoliberalismo; e a saída para fazer frente às quedas da taxa de lucro é justamente aprofundá-lo. Para aplicação desta política genocida, figuras emblemáticas das lutas contra as ditaduras e referências para a esquerda ascendem ao poder.


Lula, Tabaré Vasquez, Kirchner e Bachelet são figuras necessárias para aplicação e institucionalização do modelo neoliberal, mais eficientes que os governos tradicionais da burguesia exatamente por terem penetração nas classes trabalhadoras e conseguirem, com mais facilidade, implementar os ataques necessários ao capital sem dar a respectiva visibilidade política ao aprofundamento das contradições no campo econômico, com o aumento da exploração.


Neste quadro, necessariamente, temos de analisar os governos de Morales e especialmente Hugo Chávez de forma diferenciada. Se certamente não são revolucionários, o que afirmam constantemente, representam, no mínimo, uma diferencial na homogeneidade da opção política e econômica no continente Sul Americano. O fato de ascenderem diante de processos de intensa mobilização da classe trabalhadora em seus países os coloca em posição diferenciada, como reflexos institucionais, mais recuados do ponto de vista político, do processo de lutas que se desenvolve.


Hugo Chávez, que afirma sistematicamente que não é comunista nem marxista, professa um Socialismo do Século XXI, pautado pela via institucional e centrado em reformas ainda capitalistas, mas que favorecem a classe trabalhadora e ao povo, entendido no seu sentido mais amplo. Representa, assim, uma opção política de enfrentamento ao governo Bush na América Latina, servindo inclusive como contraponto a algumas das políticas internacionais adotadas pelo governo Lula.


Cabe à esquerda revolucionária, desta forma, organizar-se para onerar o capital neste momento de debilidade, criando também as condições objetivas para sua desestabilização. Isso passa, sem dúvida, pela necessidade de construção de um programa classista para enfrentar a crise e, complementarmente, pela necessidade de construção de alternativa de organização capaz de unificar a classe no combate ao capital – tarefas para as quais ainda estamos, a esquerda revolucionária como todo, debilitados.


O realinhamento das relações de poder mundial neste inicio do século XXI mostram, apesar das importantes desestabilizações, um claro e preponderante controle dos Estados Unidos numa escalada para uma nova fase do imperialismo, onde o necessário e incansável impulso do capital em direção ao monopólio adquire, agora, sua fase potencialmente mais destrutiva.


A necessidade sistêmica de o capital subjugar globalmente o trabalho por meio de todas as formas necessárias para sua sobrevivência exige e exigirá de nós respostas historicamente viáveis com a mesma dimensão e complexidade dos enormes desafios pautados pela atual fase do imperialismo hegemônico global que, certamente, não passarão pela minimização do seu poderio destrutivo e da complexidade histórica do momento que vivemos .


Lula no Brasil: aprofundamento do neoliberalismo


Luis Inácio Lula da Silva é eleito presidente do Brasil num cenário de intensos ataques às conquistas dos trabalhadores e às suas organizações políticas e sindicais. A necessária implantação do projeto neoliberal para dar sobrevida ao capital é conseqüência direta de mais uma crise do capitalismo, quando a queda das taxas de lucro do capital mundial obriga a burguesia a abandonar o modelo de Estado de Bem-Estar Social e adotar uma estratégia de intensificação da exploração da mais-valia absoluta e relativa. Estratégia esta necessária para reprodutibilidade do sistema que impõe, mais uma vez, sacrifícios ao proletariado mundial e ao brasileiro.


Sob eufemismos diversos, como “Racionalização do Estado” e “Reestruturação Produtiva do Capital” implanta-se o projeto neoliberal, com o "enxugamento" das empresas públicas e privadas, programas de demissões voluntárias e privatizações que produziram desemprego em massa a nível mundial. A desregulamentação das relações de trabalho, via políticas de terceirizações e de reformas trabalhista, administrativa, fiscal e tributária, complementa a transferência e descentralização do Estado para instâncias locais, indivíduos e instituições privadas, especialmente as organizações e corporações religiosas e não-governamentais, aumentando visivelmente a miserabilização das massas e a violência urbana e rural.


Como sabemos, a implantação inicial deste projeto no Brasil coube especialmente aos governos Collor e FHC. No momento em que o próprio neoliberalismo começa a apresentar sinais de desgaste, como já apontamos anteriormente, cabe a um líder operário o aprofundamento e institucionalização do projeto neoliberal brasileiro. Assim, o sujo papel de algoz da classe trabalhadora cabe a um líder sindical carismático que, por isto mesmo, consegue, de forma mais eficiente do que qualquer representante clássico da burguesia, implantar as reformas necessárias à sobrevida do capital com menor pressão enganando parte da classe trabalhadora e desmobilizando temporariamente o país.


Parte do proletariado, ainda submetida ideologicamente ao capitalismo, depositava expectativas nas mudanças prometidas durante a campanha eleitoral mesmo depois da constituição de um governo onde banqueiros, empresários e latifundiários hegemonizam a linha política e o projeto apresentado era o projeto da burguesia nacional e do FMI.


Sabemos todos que em períodos que o capitalismo tem dificuldades de reprodução, a tendência é que partidos com penetração nos sindicatos e que representem a pequena burguesia assumam a centralidade do poder capitalista. É justamente por ter penetração junto ao proletariado e por não representar diretamente nenhuma das duas classes fundamentais da sociedade, a burguesia e o proletariado, que a sua atuação tem o sentido de diluir e não dar visibilidade política à contradição que se agudiza cada vez mais no campo econômico, reafirmando, desta forma, a subordinação do proletariado à ideologia dominante.


Transforma-se, assim, Luis Inácio Lula da Silva numa eficiente e descartável marionete da burguesia e do capital financeiro, que passeia em carruagens com reis e rainhas e, sem o menor pudor e respeito com tantos companheiros mortos pelo sonho de construção de um Brasil mais justo, chama Bush de companheiro – e, mais do que isso, sustenta sua política internacional: prova disso é o escandaloso envio de tropas militares brasileiras para oprimir e sustentar a exploração do povo haitiano e dar suporte à invasão dos EUA ao Iraque. Certamente a história está repleta de exemplos semelhantes. Mas esta é a nossa história e cabe a nós, vanguarda da esquerda brasileira, retomar a construção de um projeto de independência da classe trabalhadora.


A política desenvolvida por Lula e pelo PT representa e representava, desde seu início, uma continuação das políticas burguesas desenvolvidas no país. Este eficaz comitê gestor da economia e da política burguesas tem como uma das suas especificidades históricas o fato de se encontrar ancorado em um líder sindical como presidente e em entidades (PT, CUT, UNE) que, de uma forma ou de outra, detinham significativo poder de representação, dificultando enormemente a retomada das lutas contras as reformas neoliberais e o trabalho de reorganização partidária, sindical e estudantil no campo da esquerda.


Assim, durante o primeiro mandato de Lula observamos que, mais cedo do que se esperava, o caráter de agente da dominação capitalista do governo Luiz Inácio Lula da Silva veio à tona. A aprovação da primeira parte da Reforma da Previdência logo no primeiro ano de mandato e o início das demais reformas (Universitária, Sindical e Trabalhista) demonstrou a maior facilidade de Lula implementar os ataques à classe trabalhadora. Ao mesmo tempo, esse processo iniciou um desgaste do governo junto aos setores organizados dos movimentos proletário e estudantil.


Neste período, surgiram mobilizações em todo o país para enfrentar as reformas que foram dificultadas por fatores importantes como o aprofundamento, causado pelo governo Lula, do refluxo dos movimentos proletário e estudantil, a presença da “esquerda do PT” no interior das mobilizações, que impedia que a luta contra as reformas do governo se chocasse contra o mesmo – atuando como quinta “coluna do governo” – e, certamente, o total alinhamento e apoio da CUT ao governo Lula.


Desta forma, se inicia um processo de reorganização dos movimentos operário e estudantil, mas os ataques do governo são implementados com relativa facilidade. Os escândalos de corrupção que atingiram o PT e a alta cúpula do governo foram, sem dúvida, mais um elemento para desgastá-lo, em que pese que a figura do presidente conseguiu sair sem maiores arranhões do processo.


No primeiro ano do segundo mandato do governo Lula, tais denúncias tornam-se rotina, demonstrando mais uma vez e claramente a deterioração do PT e a conivência e apoio da CUT a toda política neoliberal, incluída aí a corrupção como uma de suas manifestações. Em rápidos e sucessivos intervalos ocorrem denúncias, crise, apreensão no poder e rápidas recuperações. A aceitação do governo oscila, mas se mantém em alta, resultado dos programas assistencialistas, da parceria com a Rede Globo, do apoio do capital financeiro com lucros sempre crescentes e o bom desempenho da economia na ótica burguesa.


De toda forma, observa-se que o governo já apresenta uma dificuldade maior para implementar suas reformas e a política neoliberal como um todo. Depois de fortalecer-se no ano eleitoral (quando freou alguns de seus ataques e mobilizou mesmo parte da esquerda que já não acreditava mais no projeto do PT com a falsa polarização com a direita tradicional representada pelo PSDB), o governo volta a atacar logo no primeiro ano do segundo mandato e encontra uma resistência mais organizada por parte da esquerda. Ainda que tal resistência não tenha sido capaz de barrar objetivamente muitos dos aspectos da política do governo Lula, o enfrentamento se deu em níveis superiores, colocando maiores obstáculos aos ataques neoliberais e refletindo o avanço do processo de reorganização da esquerda brasileira.


Lamentavelmente, foi exatamente nesse momento de maior desgaste do governo e seus apêndices que observamos a opção, por parte das correntes hegemônicas na esquerda (PSTU e PSOL), de voltar a organizar mobilizações – com eixos políticos rebaixados – lado a lado com aqueles que representam a burguesia no movimento social, o que evitou que a reorganização avançasse ainda mais. Mas disso trataremos mais à frente.


A falência da CUT: definitivamente do lado de lá!



A falência da CUT deve, necessariamente, ser analisada em conjunto com a transformação do PT num partido parlamentar burguês e com o papel que ambos cumpriram na implantação das políticas neoliberais no Brasil. Adotar uma análise isolada é erro metodológico estranho ao marxismo e certamente só interessa àqueles que precisam apresentar meias verdades e fragmentar a realidade para encobrir e defender o indefensável: a traição da CUT, do PT e do governo Lula à classe trabalhadora brasileira, latino-americana e mundial.


A traição do PT, do governo Lula e de seus principais órgãos de sustentação – a CUT e a UNE – fecha um ciclo da história brasileira iniciado no começo da década de 1980, momento de ascensão dos movimentos operários que se libertavam das amarras da ditadura militar instalada em 1964 e que coincide com a derrota do socialismo real e com o processo de consolidação mundial do neoliberalismo.


A história do PT, porque recente, todos conhecemos; sua transformação de um partido de esquerda em um partido burguês a serviço do capital ocorre em conjunto com sua opção por privilegiar a via parlamentar, com sua degradação, com o cerceamento da disputa política e com o uso crescente da máquina do partido para o fortalecimento do campo majoritário.


Com o ascenso do governo Lula, a CUT se converte em um legítimo aparato governista, funcionando como o braço sindical de Lula e da burguesia. Mais do que uma simples entidade incapaz de tocar a luta, a CUT tem o papel de atuar no movimento contra a luta dos trabalhadores, legitimando o governo e sua política neoliberal. Ou seja, freia as mobilizações, impede que se choquem com o governo e seus aliados e defende a retirada de direitos dos trabalhadores. A CUT, portanto, é o grande diferencial do governo Lula, o que o permite avançar na implementação da agenda neoliberal, seu elemento de sustentação.


É daí, pois, que surge a reorganização no movimento sindical: da urgência pela construção de uma nova ferramenta, capaz de organizar e impulsionar a luta dos trabalhadores a partir do marco da independência de classe e, também, da necessidade histórica de se derrotar a CUT, assim como o governo, para fazer avançar a luta de classes no país.


Ora, se o grande diferencial do governo Lula, que o faz mais eficiente para a implementação no neoliberalismo que os governos tradicionais da burguesia é justamente o fato de ser um representante ideológico da classe trabalhadora e de ter sustentação no seio do movimento operário, está claro que a derrota do governo e suas políticas passa, necessariamente, pela derrota da CUT. É justamente por isso que o debate de reorganização não pode ser visto como algo secundário, reduzido à disputa de direção do movimento, feito apenas no campo da propaganda e do qual podemos abrir mão em qualquer momento.


Não. O debate da reorganização passa, necessariamente, pela definição do caráter e do conteúdo das lutas que a classe trabalhadora deve travar contra o capital, o neoliberalismo e seus agentes. Ou levamos as mobilizações às suas últimas conseqüências, fazendo com que se choquem com o governo e seus apêndices, ou estaremos nos furtando a responder as tarefas centrais colocadas hoje pela conjuntura, quer sejam: a desconstrução de Lula enquanto representante ideológico da classe trabalhadora e a destruição da CUT para que, no fogo da luta, se construa uma alternativa independente e classista para o proletariado brasileiro.



Construir uma nova central: os desafios do movimento e o papel da Conlutas



A criação da Conlutas (e, para o movimento estudantil, da Conlute), em 2004, em Encontros Nacionais amplamente vitoriosos, foram marcos decisivos para a reorganização da esquerda brasileira, que em grande medida possibilitaram a reorganização dos movimentos sindicais e sociais e a retomada das lutas e o enfrentamento com o governo Lula. Ambas se constituíram como opções frente à falência das entidades tradicionais do movimento, e desempenharam um papel de vanguarda no combate ao governo Lula e suas políticas, papel este indispensável para reorganização do movimento e para a retomada da lutas de massas.


Tratamos, aqui, de um período em que não existe mais uma referência nem um projeto, onde o velho não serve mais, e que, por isso, abre espaço para o surgimento do novo. Mas este novo ainda esta para ser criado – e só o será sobre os escombros do velho! Fundamenta-se, assim, nossa defesa na necessidade de desenvolver as lutas sindicais organizadas na Conlutas não só por fora, mas também CONTRA a CUT, dada a sua conversão em inimiga de classe.


É justamente quando tratamos da necessidade de construção do novo que devemos estar atentos às tarefas que a esquerda como um todo precisa cumprir neste momento de reorganização. Isso significa que este processo deve se desenvolver – e só assim será vitorioso – a partir de uma caracterização precisa do estágio em que se encontram as lutas de classe a níveis mundial e nacional, do nível de organicidade em que se encontra a classe trabalhadora, sobre quais são e, principalmente, por onde passam suas possibilidades de avanço.


Para tal, não nos serve avaliar a conjuntura tal qual queríamos que ela fosse, tal qual queremos que seja a curto ou médio prazo. Isso, obviamente, é também importante – mas apenas se combinado com a avaliação concreta da situação concreta, pois é daí que retiraremos nossas tarefas imediatas, tanto do ponto de vista político como organizativo. Isso significa que, para que a Conlutas possa cumprir seu papel na reorganização do movimento sindical brasileiro, precisamos ter clareza que ainda não vivemos um momento de unificação das lutas de classe no país. Esse é o desejo de todos os lutadores e lutadoras da esquerda brasileira, mas apenas isso não basta.


É justamente porque queremos que as lutas de classe se unifiquem no próximo período que precisamos impulsionar esse processo a partir do que temos de concreto, hoje, na conjuntura, e não tentar unificá-las artificialmente – o que só faz o processo retroceder. Este é um debate fundamental do ponto de vista organizativo e também político para a Conlutas, e é neste sentido que não acreditamos que possam contribuir com o avanço da luta as propostas de transformar a Conlutas em algo parecido como um “soviet”, numa conjuntura em que a unificação das lutas ainda não está colocada.


É por isso que apontamos a necessidade de uma nova central sindical de trabalhadores e de uma nova entidade de representação dos estudantes, já que identificação de classe se dá por um entendimento real dos trabalhadores sobre o papel que representam nas relações de produção. Defendemos, obviamente, que trabalhadores e estudantes atuem em unidade contra o capital, resgatando a herança da unidade operária-estudantil. Defendemos, igualmente, a realização de fóruns amplos, que reúnam o movimento sindical, social e estudantil para a avaliação e organização de lutas conjuntas.


Mas isso não pode substituir a construção de organizações de classe e categoria, capazes de atender às necessidades específicas de cada movimento e, assim, fazer avançar o nível de consciência da classe trabalhadora e da juventude no fogo de suas lutas, rumo a uma real unificação do movimento. Se ignorarmos tal tarefa e tentarmos, artificialmente, unificar as lutas de classe apenas pela nossa vontade, à revelia da conjuntura, estaremos construindo uma ferramenta superestrutural, na qual as necessidades específicas dos trabalhadores e da juventude serão objetivamente relegadas a segundo plano, assim como o avanço de suas consciências.


Perspectivas



Está colocado, portanto, neste primeiro Congresso, o desafio para a Conlutas consolidar-se como alternativa concreta para a classe trabalhadora brasileira, capaz de organizar e impulsionar suas lutas contra o governo e seus sustentáculos dentro do movimento social. Para tal, é preciso que se torne uma entidade com mais organicidade, que avance do ponto de vista organizativo – o que passa pela construção privilegiada dos fóruns de base e pela preocupação permanente no combate à burocratização.


Do ponto de vista do caráter e conteúdo das lutas a serem travadas, há um grande debate a ser feito. Apontávamos, desde o surgimento da Conlutas, como maior equívoco político, a proposta de construção de uma unidade em marcos rebaixados com setores da CUT, da UNE e do PT. Os chamamentos a unidades dissolvidas que proliferaram e uma incorreta “paciência”, que nada tem de revolucionária, foram erros sistematicamente apontados por nós neste período. Sabemos que a história não pára, qual o correto papel da vanguarda e sabemos todos que, em política, falta de clareza e indecisão sempre estão a serviço de objetivos conciliadores que acabam por fortalecer sempre a ideologia dominante.


É dessa análise que devemos partir para estabelecer nossa relação com os aparatos burgueses e governistas encastelados no movimento social do país. Já identificamos o diferencial do governo, o papel que cumprem as entidades tradicionais para sua sustentação e para o combate ao movimento independente e classista. Identificamos, a partir daí, a necessidade de derrotá-las, junto ao governo, como condição fundamental para o avanço das lutas de classe e da consciência do proletariado brasileiro. O que justificaria, então, a construção de atos unificados com tais entidades, que só foram possíveis a partir da aceitação da condição – imposta pelos nossos inimigos de classe – de todas as pautas políticas que atingissem o governo Lula? Uma suposta “disputa das bases” destes setores?


É preciso, aqui, que façamos um sério e profundo debate sobre os marcos para a construção da unidade. De nosso ponto de vista, a unidade só é possível quando o movimento é capaz de identificar objetivos comuns e traçar ações unificadas para alcançá-los. Para além disso, se trata de nada mais do que “a violação da unidade sob os gritos da unidade”, já apontada por Lênin – trata-se, assim, da ruptura da unidade real da classe trabalhadora contra seu inimigo de classe em prol da construção da “unidade” impossível, sem pauta política, que se traduz, pura e simplesmente, como conciliação.


Conciliação porque, para construir tal “unidade”, é necessário simplesmente ignorar a identificação de um objetivo comum. Se nosso inimigo é o governo Lula e nosso objetivo é derrotá-lo, não poderemos, em momento algum – a não ser que queiramos abandonar tal objetivo em favor da conciliação - deixar de enfrentá-lo para podermos construir “unidade” com aqueles que traíram a classe trabalhadora e querem exatamente o oposto de nós: defendê-lo, consolidá-lo como referência para a classe trabalhadora e garantir a implementação dos ataques neoliberais. Esta é a contradição central da conjuntura hoje, e é ela que deve nortear os marcos da construção da unidade.


Sobre a disputa das bases das entidades governistas, estamos certos de que só iremos trazer para o nosso lado a gama de trabalhadores e trabalhadoras que hoje ainda estão nas fileiras da CUT quando formos incisivos no combate às políticas da central, e jamais ao reproduzi-las. Ou por acaso a classe vai compreender a necessidade de abandonar a CUT e construir a Conlutas quando a última fizer exatamente a mesma política que a primeira? É, pois, no combate à CUT e ao governo e consolidando uma alternativa completamente diferente na política e na forma que conseguiremos fazer avançar a consciência de tais trabalhadores.


Cabe ressaltar que aqui não nos referimos aos atos por pautas objetivas e concretas que por ventura, por conta de suas pressões e contradições internas, a CUT vier a participar. Uma luta por reajustes salariais num sindicato, por melhores condições de trabalho, ou, até mesmo, contra uma política específica do governo – como aconteceu com os recentes leilões do petróleo no último ano. Obviamente, não deixaremos de participar de tais mobilizações. Obviamente, também, que o faremos com um conteúdo completamente diverso do defendido pela Central, que leve a luta às suas últimas conseqüências, aponte o caráter do governo como um todo, e, inclusive, denuncie o papel da entidade para frear o avanço das mobilizações – trazendo, assim, o debate da reorganização e da construção de alternativas de classe para o dia-a-dia das lutas.


Sobre questionarmos os atos em unidade com o governismo, nos referimos, isso sim, aos atos DE PROPAGANDA, sem reivindicações concretas, construídos pelo setor majoritário da Conlutas em conjunto com a CUT no ano passado, como o 23 de maio e a manifestação na abertura dos Jogos Pan-Americanos – cujas pautas políticas poupavam inteiramente o governo (e, mais do que isso, apoiavam seu “veto à emenda 3”) ao invés de combatê-lo.


Por fim, entramos no debate sobre a fusão com a Intersindical. Estamos certos de que a construção da unidade entre todos aqueles que querem lutar contra o governo e suas políticas é uma necessidade para o avanço das lutas de classe, e que a consolidação de uma entidade sindical passará pelo sucesso em construir tal unidade. Não se trata, portanto, de um debate de “paternidade” sobre a ferramenta que queremos construir.


O que devemos ressaltar, sobre esse aspecto, é que a Intersindical se torna débil para responder as tarefas de reorganização do movimento sindical por aglutinar uma série de setores cutistas e, assim, estar impedida de consolidar uma alternativa independente e classista. Não vamos nos repetir aqui sobre o papel da CUT e a necessidade de romper com a central, mas está claro que a construção de uma ferramenta que esteja à altura de cumprir seu papel histórico passa, necessariamente, pelo abandono e destruição da CUT como referência para o proletariado, e não pela “coexistência pacífica” com a central traidora.


Neste sentido, mantidos esses marcos, uma fusão da Conlutas com a Intersindical significaria um enorme retrocesso na construção do novo instrumento da classe trabalhadora brasileira. Significaria não apenas um, mas vários passos atrás no que se refere ao que a Conlutas já é hoje, no que construiu desde 2004 e nas deliberações do Conat de 2006, que apontavam claramente para a ruptura com a CUT. Significaria, assim, mais uma conciliação, mais uma diluição, mais uma negação em responder aos desafios colocados para a esquerda brasileira – política contra a qual nos colocamos frontalmente.


Estamos dispostos a construir em conjunto com todos os trabalhadores e trabalhadoras uma alternativa de classe para o proletariado, um instrumento capaz de unificar suas lutas e cumprir as tarefas históricas que se colocam para nós. E, para isso, é necessário avançarmos, e jamais retrocedermos, diante do que já construímos com muitas lutas até hoje, em direção à emancipação do proletariado e à superação revolucionária do capital.

Nem um passo atrás na reorganização do movimento sindical: consolidar a Conlutas como entidade para derrotar o governo Lula/PT e suas políticas neoliberais!

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