terça-feira, 1 de março de 2011

Escovar a Universidade no Contrapelo da História

Monólogo para Três Cabeças Pensantes- Parte III
ou
Escovar a Universidade no Contrapelo da História


Exigência fundamental de Walter Benjamin é escrever a história a contrapelo, contra a tradição conformista cujos partidários estão, sempre ,"em empatia com o vencedor".


Preparava-me para abrir este manifesto no estilo-chamamento “Vote Nulo na eleição para Reitor ou Construa uma chapa que não represente o continuísmo”, quando, nesta tórrida manhã de sábado ao ligar o ventilador caiu literalmente da minha prateleira uma mensagem de Zeus na forma de um pergaminho velho, de escritor desconhecido.

Título: Sobre meninos e vacas, mais um desastre literário em um monólogo para três cabeças.

Explicava o preâmbulo: “Trata-se de uma carta anônima, sem destinatário, ...escrita numa língua nativa estranha para professores da UFRJ.” Dela eu registro a última parte.


O Hoje que te escrevo é sempre um amanhã desconhecido.

E logo depois:

Quando a morte, vestida de mãe e em onça disfarçada, reconhecendo sua derrota para o amor, despede-se do velho professor apaixonado, ele interrompe sua retirada e a chama: ‘Não vais agora. Ela há de me fazer sofrer e tu me consolas. Mão de mãe não fere, a dor não deixa marcas’.

As escavações continuam... Parece que há sempre algo que escapa à solvência unânime do lodo”.

Assim inspirada, não vejo o momento para meu chamamento panfletário, mas sim para um chamamento contra a solvência unânime no lodo”.

Lodo que pouco a pouco engole a UFRJ, transformando a educação numa instrumentalização massiva, exigência para o necessário ganho de competitividade na lógica do capital. Lodo onde a UFRJ afunda procurando saídas dentro da estreita ótica do modelo capitalista de sociedade.

E assim brotam as “inovadoras” soluções para criação de uma nova sociedade " auto-sustentável , pautada no desenvolvimento tecnológico e na gestão do conhecimento”. Empreendedorismo, a milagrosa fórmula para cura de todos os males é pauta das infindáveis reuniões que traçam “metas “e “ missões ” de todos os nossos mandatários de plantão. Solução primária, falsa e inconsistente, que nos afunda no pantanoso e inexorável caminho traçado pela ótica do capitalismo selvagem e belicista.

Sabemos, especialmente se adotarmos o rigor do método de análise concreta da História, que as inovações tecnológicas são o caminho para a necessária mudança para uma nova sociedade, ao mesmo tempo em que constitui exigência de sobrevida do capital. Solução, tão velha quanto o capitalismo, que traz em si a contradição do próprio modo de produção capitalista.

A nova e estarrecedora conjuntura, tão cruel como as já vividas em outros ciclos de crise mostra – outra vez – que o capitalismo segue o inexorável curso previsto por Marx: diminuição tendencial das taxas de lucro, queda de salário e miserabilização progressiva população mundial. Em Marx também, está explicitada a necessidade permamente da inovação tecnológica como condição de sobrevida do capital, com a incorporação ao processo produtivo de máquinas e inovações tecnológicas para aumento da “competitividade”.

Mudanças que trazem como conseqüência direta a diminuição da taxa de mais-valia e não colocam outra alternativa para sobrevivência do capital que não seja a expansão de mercados e o aumento da exploração da força de trabalho, do trabalhador.

Desnecessário enumerar os exemplos de miséria no planeta, quer nos entornos do Vale do Silício, templo maior da sacralização da tecnologia, e no trágico cotidiano dos da Índia, celeiro de tantas e competitivas inovações tecnológicas .

Soluções verdadeiras devem seguir o caminho apontado por D. Harvey: “É preciso resgatar o capitalismo dos capitalistas.” Desmascarar sua fraudulenta ideologia neoliberal e todas as suas tensões e contradições internas, já insustentáveis, para que, como disse Marx, “o capitalismo desapareça e se abra caminho para algum modo de produzir alternativo e mais racional.”

Assim refletindo, fico a nos perguntar:

#Que UFRJ queremos?

# Minerva, até quando, te curvarás submissa e respeitosa à lógica do capital?

# Reitoria, até quando defenderás o Reuni, as expansões sem estrutura e atrasarás as bolsas de estudantes alojados numa precária e vergonhosa construção?

# Reitoria, até quando permitirás a privatização dos estacionamentos do CT, a exploração dos guardadores e terceirizados?

# Mais ainda, há diferenças entre as chapas concorrentes?

E assim pensando respondo:

Vote Nulo ou Construa uma Chapa que reinvente nossa história na contra hegemonia do capital.

Profa. Vera Salim PEQ/COPPE/UFRJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário