Prof. Ricardo Kubrusly- informe HCTE indica a continuidade da greve! |
domingo, 19 de agosto de 2012
Os Sonhadores se apresentam para a luta
para os
professores da UFRJ em greve que no dia 17 de agosto, juntos em diferenças, nos
ensinaram que o tempo é feito de acontecimentos
Prof. Ricardo Kubrusly- IM e HCTE/UFRJ
Me recordo de
um colega aos gritos dizendo que éramos sonhadores e que não adiantávamos
pensar que mudaríamos o mundo ou derrubaríamos o governo pois estes estavam
postos, como frutas velhas sobre a mesa e que pouco importava se a proposta do
governoproifes era ruim ou muito ruim ou péssima, era aquilo que tínhamos e que
teríamos de engoli-la gostando ou não e que o futuro já estava dado e caberia a
nós, a nós professores e estudantes e técnicos que ali desavergonhadamente
sonhávamos, apenas o papel de se nos adaptarmos a ela, essa mentira de
governoproposta feita de e por pelegos, que entre nós, como dobermans da
normalidade enrolados em seus próprios umbigos a tentar frear velocidades.
Ah... e, como sempre, sob pena de perdermos a história.
Já ouvimos
esses mesmos blablabas em outras ocasiões e eles nos são apresentados sempre que alguma
perversão nos é preparada por essa sequência de governos metidos a sabidos e seus pelegos que carregamos desde a
ditadura militar e que embrulhando um pacote de história pronta, enfiam a coisa
pronta.... Sai pra lá, professor sem sonhos! As nossas revoluções são sim as
nossas assembleias e a farsa do futuro inevitável, há muito que já
não nos impressiona.
Pobre homem
sem sonhos, infeliz escravo contente que prefere se unir ao opressor do que
lutar por sua libertação, fincado a um
passado onde a miséria se lhe sustenta e preso a uma promessa de um futuro
individualista e onde finalmente branco e rico gozaria suas mazelas em paz, é
ele que inventa um futuro inevitável, como farsa necessária para por-se em
movimento e, de fato, move-se no círculo diminuto que seu próprio umbigo
possibilita. Pobre professor que aos gritos clamava o fim do movimento, triste
virgem catatônica que enrolada em seu cordão furioso exigia a normalidade
quando está já não mais se apresentava nos cardápios dos acontecimentos.
Estariam
pedindo socorro? Olhem por mim, vocês que agora e ainda sonham um mundo mais
justo e uma universidade plural e educadora. Olhem por mim com seus sonhos
feitos de ações e pensamentos. Me ajudem a ser para além desse umbigo fétido
que sobre a mesa apodrecido me imobiliza e desconcerta. Seria isso? Pediriam
ajuda?
A UFRJ mais
uma vez se apresenta com nossos professores e estudantes e técnicos unidos por
uma educação viva que nos apresente uma possibilidade de futuro diferente e
melhor. Que bela aula de ideias e desejos, que poema avassalador produzimos
nesse 17 de agosto.
Somos os
sonhadores radicais e só os sonhadores radicais caminham quando a hora é esse
encontro de agoras que ora vivenciamos, quando a história finda e as opções de
recomeço se nos acolhem e assustadoramente ouvimos enfim a voz dos nossos
professores:
mescla tuas certezas com tuas
dúvidas (não confies em nenhuma das duas
– nem mesmo as dúvidas são totalmente livre de preconceitos ) não nomeies, não definas ou
classifiques, segue teus passos, eles já guardam em si suas definições e
classificações e nomes, age, não temas, vive teu espanto e, sonhador, caminha.
Nós
somos aqueles por quem estávamos esperando!
domingo, 5 de agosto de 2012
A GREVE CONTINUA!!!!
Queridos professores alunos e técnicos do HCTE:
Na
semana que se encerra, as negociações das universidades e outras
instituições de ensino federais no Brasil com o ministério de
planejamento orçamento e gestão (MPOG) foram unilateralmente
interrompidas pelo governo e seus negociadores que, após marcarem
uma reunião para quarta feira passada, lá chegando, disseram apenas
que não iriam mais negociar com o nosso sindicato e que mandariam a
proposta que tinham, como estava, para o congresso e que não se
falaria mais nisso
Um
grupo de professores que se autodenomina “representante da classe”
e que, de fato, representa menos de 10% do total das IFES
(Instituições Federais de Ensino Superior) e que foi formado tendo
como filosofia geradora a ideia de que os professores não
precisariam ser representados sindicalmente, pois tinham canais
privilegiados nos bueiros intestinais dos governos e que com isso se
ajeitariam por debaixo dos panos e acabariam, pelo menos os mais
pelegos, se dando bem, …, esses correram e assinaram algum acordo
com o governo. A nós caberia engolir a proposta, e que proposta...
As
condições precárias de trabalho que alunos professores e técnicos
enfrentam não se alterariam, nosso plano de carreira continuaria,
com algumas modificações, perversa e faustamente privilegiando
heterogeneamente as negociações mais subterrâneas. Quanto aos
números e ao aumento salarial, tão fortemente alardeado pela
imprensa, ele é mentiroso, pois se levarmos em conta que deste o
último reajuste da categoria, estamos, mesmo com os 4% que tivemos
recentemente, em torno de 10% defasados e se levarmos em conta a
inflação prevista e/ou real nos próximos três anos, esse reajuste
proposto, que será diluído até 2015, depois do fim do governo
federal atual, perderemos dinheiro, estaremos, no final do aumento
anunciado, ganhando menos do que hoje. O projeto do governo afeta
também a autonomia universitária, despreza a nossa formação, que
é o que temos ao fim e ao cabo, o nosso corpo, feito dos saberes que
acumulamos, dos esforços intelectuais que tivemos pelos anos para
nos tornarmos mestres, doutores etc., cria mecanismos de equivalência
à titulação formal que são, no mínimo, preocupantes e,
desconhecendo a nossa vocação tríplice de ensino, pesquisa e
extensão se nos impõe uma estrutura que rapidamente nos
transformaria em escolões transformadores de jovens em robôs
conformados. A proposta é estruturada de maneira assustadoramente
fascista e não pode ser nem aceita nem ignorada. Nossa postura de
deixar a coisa andar pra ver como é que fica (de, e eu com isso?), é
irresponsável, preguiçosa e masoquista e nossos alunos e nossos
jovens professores não merecem que façamos isso com eles.
Por
fim, ontem, sexta feira, tivemos nova assembleia na UFRJ para
analisar a situação. Por um lado, cansados por uma greve de mais de
70 dias e, teoricamente, às vésperas de iniciar um novo semestre,
nossa vontade geral era que o mundo fosse outro e que pudéssemos
dizer: conseguimos um pouco e a luta valeu e podemos voltar para a
nossa normalidade, pois estamos melhor e mais sábios, mas ainda não
chegamos a isso. Estamos em meio à luta e por mais de 100 votos
contra 7, a greve continua na UFRJ. Isso significa que a nossa
universidade com sua graduação e pós-graduação e tudo o mais que
a compõe e justifica está em greve. Que é nosso dever tentar
mobilizar e convencer aos vários setores da sociedade que a luta que
ora travamos é justa, verdadeira e necessária e que o governo deve
reabrir as negociações sob pena de vermos o futuro se nos
apresentar um quadro educacional ainda mais sombrio do que o atual.
A
ideia que historicamente trazemos de termos uma estrutura
universitária esquizofrênica onde a graduação existe
independentemente da pesquisa e, onde a extensão simplesmente
inexiste, há muito que não se sustenta, mas deixa suas marcas e
seus ranços. A pós-graduação não pode parar é uma dessas
verdades partidas ao meio que se nos acostumamos a aceitar sem
refletir. O que não pode parar e que de fato não para é a
universidade, com suas lutas, suas invenções e descobertas. A nossa
pós é parte da UFRJ e, portanto, estamos em greve. Respeitamos a
autonomia de cada professor que pode e deve seguir as suas próprias
decisões, não porque a pós-graduação não para, mas sim, por
decisão própria. Quanto à burocracia envolvida com seus créditos
e calendários e notas etc, não há nada que não se possa resolver
a contento para alunos, professores e técnicos. Os direitos dos
alunos de pós-graduação e de professores em greve estão
assegurados pelas portarias ora em curso (ver resoluções do CEPG 01
e 02/2012).
Paradoxalmente,
mas não tanto, recomeçamos nossos seminários nessa quarta feira e
como fizemos nos últimos do semestre passado em greve, proponho a
todos uma reunião logo após o seu término, para discutirmos os
destinos da nossa greve e as posturas mais adequadas do HCTE frente
aos acontecimentos.
Carinho
Ricardo Kubrusly
Professor do HCTE/UFRJ
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