domingo, 5 de agosto de 2012
A GREVE CONTINUA!!!!
Queridos professores alunos e técnicos do HCTE:
Na
semana que se encerra, as negociações das universidades e outras
instituições de ensino federais no Brasil com o ministério de
planejamento orçamento e gestão (MPOG) foram unilateralmente
interrompidas pelo governo e seus negociadores que, após marcarem
uma reunião para quarta feira passada, lá chegando, disseram apenas
que não iriam mais negociar com o nosso sindicato e que mandariam a
proposta que tinham, como estava, para o congresso e que não se
falaria mais nisso
Um
grupo de professores que se autodenomina “representante da classe”
e que, de fato, representa menos de 10% do total das IFES
(Instituições Federais de Ensino Superior) e que foi formado tendo
como filosofia geradora a ideia de que os professores não
precisariam ser representados sindicalmente, pois tinham canais
privilegiados nos bueiros intestinais dos governos e que com isso se
ajeitariam por debaixo dos panos e acabariam, pelo menos os mais
pelegos, se dando bem, …, esses correram e assinaram algum acordo
com o governo. A nós caberia engolir a proposta, e que proposta...
As
condições precárias de trabalho que alunos professores e técnicos
enfrentam não se alterariam, nosso plano de carreira continuaria,
com algumas modificações, perversa e faustamente privilegiando
heterogeneamente as negociações mais subterrâneas. Quanto aos
números e ao aumento salarial, tão fortemente alardeado pela
imprensa, ele é mentiroso, pois se levarmos em conta que deste o
último reajuste da categoria, estamos, mesmo com os 4% que tivemos
recentemente, em torno de 10% defasados e se levarmos em conta a
inflação prevista e/ou real nos próximos três anos, esse reajuste
proposto, que será diluído até 2015, depois do fim do governo
federal atual, perderemos dinheiro, estaremos, no final do aumento
anunciado, ganhando menos do que hoje. O projeto do governo afeta
também a autonomia universitária, despreza a nossa formação, que
é o que temos ao fim e ao cabo, o nosso corpo, feito dos saberes que
acumulamos, dos esforços intelectuais que tivemos pelos anos para
nos tornarmos mestres, doutores etc., cria mecanismos de equivalência
à titulação formal que são, no mínimo, preocupantes e,
desconhecendo a nossa vocação tríplice de ensino, pesquisa e
extensão se nos impõe uma estrutura que rapidamente nos
transformaria em escolões transformadores de jovens em robôs
conformados. A proposta é estruturada de maneira assustadoramente
fascista e não pode ser nem aceita nem ignorada. Nossa postura de
deixar a coisa andar pra ver como é que fica (de, e eu com isso?), é
irresponsável, preguiçosa e masoquista e nossos alunos e nossos
jovens professores não merecem que façamos isso com eles.
Por
fim, ontem, sexta feira, tivemos nova assembleia na UFRJ para
analisar a situação. Por um lado, cansados por uma greve de mais de
70 dias e, teoricamente, às vésperas de iniciar um novo semestre,
nossa vontade geral era que o mundo fosse outro e que pudéssemos
dizer: conseguimos um pouco e a luta valeu e podemos voltar para a
nossa normalidade, pois estamos melhor e mais sábios, mas ainda não
chegamos a isso. Estamos em meio à luta e por mais de 100 votos
contra 7, a greve continua na UFRJ. Isso significa que a nossa
universidade com sua graduação e pós-graduação e tudo o mais que
a compõe e justifica está em greve. Que é nosso dever tentar
mobilizar e convencer aos vários setores da sociedade que a luta que
ora travamos é justa, verdadeira e necessária e que o governo deve
reabrir as negociações sob pena de vermos o futuro se nos
apresentar um quadro educacional ainda mais sombrio do que o atual.
A
ideia que historicamente trazemos de termos uma estrutura
universitária esquizofrênica onde a graduação existe
independentemente da pesquisa e, onde a extensão simplesmente
inexiste, há muito que não se sustenta, mas deixa suas marcas e
seus ranços. A pós-graduação não pode parar é uma dessas
verdades partidas ao meio que se nos acostumamos a aceitar sem
refletir. O que não pode parar e que de fato não para é a
universidade, com suas lutas, suas invenções e descobertas. A nossa
pós é parte da UFRJ e, portanto, estamos em greve. Respeitamos a
autonomia de cada professor que pode e deve seguir as suas próprias
decisões, não porque a pós-graduação não para, mas sim, por
decisão própria. Quanto à burocracia envolvida com seus créditos
e calendários e notas etc, não há nada que não se possa resolver
a contento para alunos, professores e técnicos. Os direitos dos
alunos de pós-graduação e de professores em greve estão
assegurados pelas portarias ora em curso (ver resoluções do CEPG 01
e 02/2012).
Paradoxalmente,
mas não tanto, recomeçamos nossos seminários nessa quarta feira e
como fizemos nos últimos do semestre passado em greve, proponho a
todos uma reunião logo após o seu término, para discutirmos os
destinos da nossa greve e as posturas mais adequadas do HCTE frente
aos acontecimentos.
Carinho
Ricardo Kubrusly
Professor do HCTE/UFRJ
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